sábado, 27 de novembro de 2010

ainda.

quanto tempo é permitido sofrer? qual é o prazo socialmente aceitável?

não estou falando do let go. o let go já veio. eu já entendi que nem sempre a gente consegue manter por perto aqueles de quem a gente gosta. que os estragos são feitos, e uma coisa piora a outra, e muitas das vezes a gente perde o controle. e tudo fica pesado demais para ser simplesmente apagado, esquecido. 

não estou falando do move on, do achar novas pessoas, fazer novas coisas, descobrir outros caminhos.

estou falando da perda, propriamente dita. da saudade que fica quando a raiva vai embora, quando você consegue dissociar as coisas ruins que ouviu do que é verdade, porque sabe que só foi machucada porque também machucou.

estou falando da saudade que te toma de assalto quando você vê a pessoa passeando distraída na rua. Quando vê um livro e sente o impulso de comprar, porque sabe que ela gostaria de ganhar de presente. Ou quando vê um desenho, ou uma fotografia, ou um filme. a cada vez que surge um momento desses, um impulso quase inconsciente traz de volta as lembranças, ainda tão vivas.

eu morro de novo, e de novo.

e o tempo destrói tudo. o tempo desembaça a vista. hoje eu vejo que houve um momento em que eu poderia ter trazido ele de volta. ali, parado na minha frente, sorrindo. eu me assustei. e reagi com medo, depois com gritos, com todas as coisas que andavam engasgadas junto com o choro. minha reação foi a mais verdadeira possível. naquele momento. se hoje a mesma cena ocorresse, se eu fosse surpreendida com um sorriso, talvez eu sorrisse de volta. e eu sei que eu ia desabar, e chorar tudo aquilo que eu já chorei em dobro. e olhar com raiva, depois com pena de estarmos os dois nessa situação, depois com alguma ternura, dessas que sobram, mesmo quando todo o resto desanda. e abraçar com força, pra segurar e não deixar ir embora. porque o último abraço que eu dei selou o fim. e eu sabia, no momento em que soltei os meus braços e recuei.

todo o resto desandou. e no outro dia eu pensei. e se eu abrisse os vidros do carro e gritasse o nome dele? e sorrisse? e tentasse olhar nos olhos, buscar aquela ligação que um dia existiu, tão firme, tão limpa. e eu perguntasse. até quando? até quando a gente vai passar por isso assim, de longe? sem falar, sem saber? evitando cada encontro, evitando cada troca de olhares? será que existe uma outra forma de passar por isso?

eu sei que eu fui machucada. eu ainda estou. eu ainda choro até dormir. ainda ontem eu não conseguia sair do carro, porque o mundo desabou de repente, assim, sem aviso. faltaram as forças, mesmo. porque eu sinto saudades. porque eu sei que eu machuquei de volta.

e não interessa que eu não tivesse a intenção. eu machuquei. e toda a raiva que veio, veio porque eu fugi. eu me afastei. eu cortei. eu me arrependo. eu não sei como eu poderia ter feito diferente, não sei mesmo. eu briguei com as armas que eu tinha. eu tinha um coração partido, eu tinha esse monte de frases que me escapavam quase que sem filtro, eu tinha esse espaço. eu escrevi a minha dor. eu machuquei. eu não queria machucar. 

e se eu abaixasse os vidros do carro e falasse? como a gente conserta? tem conserto? eu tento perdoar. todo dia. não tem mais raiva. tem tristeza, tem saudade, tem esses momentos que eu dividiria com ele, e que ficam aqui, guardados, trancados. eu não substituo pessoas. o espaço que era dele é dele, ainda. aqui do lado. no outro canto do sofá. do outro lado da rua. do outro lado da mesa. é dele.

como a gente conserta o que não tem conserto?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

música explicando saudade



:~

Sympathetic Character
(Alanis Morissette)

I was afraid you'd hit me if I'd spoken up.
I was afraid of your physical strength.
I was afraid you'd hit below the belt.
I was afraid of your sucker punch.
I was afraid of your reducing me,
I was afraid of your alcohol breath.
I was afraid of your complete disregard for me.
I was afraid of your temper,
I was afraid of handles being flown off.
I was afraid of holes being punched into walls.
I was afraid of your testosterone.

I have as much rage as you have.
I have as much pain as you do.
I've lived as much hell as you have.
And I've kept mine bubbling under for you.

You were my best friend
You were my lover.
You were my mentor.
You were my brother.
You were my partner.
You were my teacher.
You were my very own sympathetic character.


I was afraid of verbal daggers.
I was afraid of the calm before the storm.
I was afraid of for my own bones.
I was afraid of your seduction.
I was afraid of your coercion.
I was afraid of your rejection.
I was afraid of your intimidation.
I was afraid of your punishment.
I was afraid of your icy silences.
I was afraid of your volume.
I was afraid of your manipulation.
I was afraid of your explosions.

I have as much rage as you have.
I have as much pain as you do.
I've lived as much hell as you have.
And I've kept mine bubbling under for you. 


You were my best friend
You were my lover.
You were my mentor.
You were my brother.
You were my partner.
You were my teacher.
You were my very own sympathetic character. 


You were my keeper.
You were my anchor.
You were my family.
You were my savior.
And therein lay the issue.
And therein lay the problem.

sábado, 20 de novembro de 2010

avó falecida manda recado

Festa sexta, festa sábado. Tequila, pole dance, dois celulares de amigas perdidos, dois meninos bonitos depois. 

Domingo de manhã. Eu, tomando café da manhã, recapitulando com uma amiga toda a bagunça das 48h anteriores. Gargalhando. 

Toca o telefone. Minha mãe. O tom preocupado, quase severo. Minha filha, ela disse. Sonhei com sua avó essa noite. Estou de pé desde as 7h da manhã, aflita, querendo te ligar. 

Sua avó te mandou um recado.

(Minha avó, pessoa querida, fofa toda vida, morreu em 1986, se eu me recordo. Me recordo pouco, eu tinha 6 anos.)

Sua avó disse que você anda fazendo muita festa, e que é pra você tomar cuidado com exageros. Sua vó pede pra avisar que você vai perder o controle.

Eu, do alto dos meus 31 anos recém completados (preciso lidar com isso ainda, não me acostumo, não me acostumo), passo um senhor esporro na senhora minha mãe. Que é absurdo demais ela ficar me vigiando por causa de festa. Que não tem cabimento, isso. Que eu sou adulta, bla bla bla, whiskas sachê. Ela pede desculpas, desliga.

A amiga ali, sentada na cozinha, olhando sem entender. Eu digo. Minha mãe ligou. Sonhou com minha avó, morta em 1986, e minha avó mandou um recado. Eu vou perder o controle.

Amiga solta uma gargalhada sonora. E diz. Mas é agora que ela avisa?

Eu? Eu não poderia concordar mais.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Teoria da distração

Venho elaborando cá comigo essa teoria. Se você está muito puto com alguma coisa, tipo 100% puto mesmo, você precisa se distrair. Faça uma bobagem qualquer, algo que te tire do assunto, do eixo, que desvie a sua atenção para outra coisa, ou outra pessoa, ou outra vida em geral.

Daí você continua puto com o que você já estava antes, mas só 50%. Ou 30%. Ou 10%. O importante é que o  espaço restante, aquele da distração, passa a ser gasto com coisas legais. E de repente, você está só 50% puto com alguma coisa, e 50% animado/distraído/gargalhando com outra. Ou 60%. Ou 90%.

Tenho colocado em prática. Isso explica uma parte das so-called bobagens que eu ando fazendo.

Vale cada segundo. De distração.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

martim no supermercado

esbarrei em martim no supermercado. era ele. eu, com duas amigas loucas, com planos de passar a tarde bebendo vinho e olhando o pôr-do-sol. a gente se esbarrou perto da prateleira de flores. trocamos olhares, daqueles de reconhecimento, mas não, não nos cumprimentamos. não é um oi, como você está. a gente sempre se encontra em um momento específico, de fragilidade, os dois prestes a entrar em salas separadas por uma parede grossa, cada um com seu personal freud. não é um momento fácil, aquele, da sala de espera. ninguém fala. um olhar ou outro perdido, mas na maioria das vezes, os dois olhando pra frente, lado a lado, para o vazio.

ali, no supermercado, perto da prateleira com flores, o olhar durou uns dois, três segundos. pude perceber como ele é realmente alto. a camiseta meio surrada vermelha mostrando uma tatuagem, no braço. o mesmo alargador, na mesma orelha. fiquei absolutamente incrível com a coincidência. ele deve morar no bairro. quando ele foi embora, entrando no carro, eu vi ele olhando pra trás. ele também deve ter achado curioso.

fiquei fazendo planos de puxar assunto na sala de espera. perguntar se era ele, mesmo, naquele dia de finados, no supermercado do bairro. 

e, desde então, a gente se desencontra.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Menino de olhos azuis. The end.

Check.

Quer saber? Não foi nada de mais. Não foi legal. Ele não foi legal. Eu sabia que ele não era. Eu sabia. Velma avisou. A minha convivência com ele, ainda que esporádica, avisou. Tudo avisou. Eu sabia.


Eu estava curiosa. Porque tinha aquele lance de ele ser bem incrivelzinho quando a gente se encontrava. E era uma coisa mais de química, mesmo. A gente não tinha grandes conversas, assuntos. Não havia. Eu sou capaz de me apaixonar em dois tempos por um cara com quem seja fácil conversar, que seja espirituoso, que me faça rir. Ele nunca me fez rir. Quer dizer. Ele rendeu boas gargalhadas nas minhas longas conversas com velma querida, as duas concordando que tipinho mais babaca ele era. Com ele, eu nunca ri.
 
Mas era isso. Eu estava curiosa. Criei uma certa expectativa, não nego. Eu imaginei que passar a noite com ele seria ALGO. Por causa do piercing, por causa das mãos todas, por causa do algum senso de intimidade que acaba se criando quando você fica com a mesma pessoa muitas vezes.

E não foi legal.

Sim, ele foi escroto. Ficou malcriado, respondão, antes do que eu imaginava. Eu olhei pra ele, vazio, vazio, passive-agressive, enquanto ele tentava se fazer de vítima insinuando que eu estava brincando com ele - vejam só - e perguntei.

Mas já?

Ele não entendeu. Bobagem minha tentar uma conversa que exijisse um pouco mais de raciocínio por parte do menino vazio. Eu fui embora. E pensei que tudo isso foi mesmo uma grande bobagem.

Não me arrependi. Nem um pouco. Eu queria saber, eu caminhei com as minhas próprias pernas até a casa dele. Eu experimentei. Valeu por isso. Agora eu sei. O que eu já sabia, mesmo.

Pensei na Velma, e na sorte que ela teve de ser abandonada enquanto dormia.

De resto, ainda pensando em Velminha, eu acho que finalmente entendi o que ela queria dizer quando falava sobre ele não ser legal. O menino de olhos azuis deixa uma sensação ruim quando vai embora. Ou quando a gente vai embora, anyway. Fica isso. Essa coisa ruim. 


De perda de tempo.
eu ainda não consigo postar tudo o que eu escrevo. acaba sendo meio ridículo. principalmente depois que um dos meus maiores medos - ser descoberta - deixou de existir.
 
eu fui descoberta.
 
hoje, na firma, várias pessoas conhecem o endereço. não. não fui eu que dei. por algum motivo o que eu escrevi tocou uma pessoa, que enviou para outra, que enviou para outra. e essa outra me conhecia.
 
mundo pequeno.
 
eu fiquei pensando. a gente perde perspectiva, mesmo. por um segundo, quando eu fui ameaçada, eu fiquei muito, muito assustada. hoje, parece bobagem, mas eu ainda aperto control + A e delete depois de algum texto mais, hum, comprometedor. o que é comprometedor, eu pergunto? não há nomes, não há nada. existe inclusive ali em cima, canto direito, atendendo a pedidos (ou exigências), um disclaimer.
 
isso é uma obra de ficção. qualquer semelhança com fatos, pessoas ou acontecimentos terá sido por mera coincidência. além disso, é o que eu sempre digo. blog é opt in. vc digita o endereço e lê. vc cadastra ativamente no seu reader e recebe. vc escolhe. ninguém te ataca com isso, não sai no jornal, não tem a sua foto. é uma história qualquer, de uma pessoa qualquer. numa cidade qualquer. assim como todos os outros. assim como os livros, os filmes. a vida.
 
e eu aqui. deletando textos. com medo de uma ameaça vazia, que mal se sustenta. não há nomes. não havendo nomes, não há provas. não havendo provas, não há caso, não há nada. há a suposição. e o que vc faz com uma suposição? hum. nada. essa é a resposta.
 
pois então eu fui descoberta. o mundo não acabou. eu ainda estou descobrindo como lidar com esse novo lugar, onde uma pessoa me conhece primeiro aqui, depois na "vida real". a exposição é toda minha.
 
ainda outro dia eu conheci uma pessoa que só existia aqui, na caixa de comentários. eu podia olhar pra ela e tratar como uma desconhecida. mas ela não é. ela acompanha meu coração rasgando há meses. eu acompanho o dela, também através de um blog. não tem nada de desconhecido nisso. tem reconhecimento. a gente já se conhece.
 
desconhecido é quando alguém te conhece bem. e ainda assim vem aqui. e não entende nada do que você escreveu. e te julga, e te ameaça, e te amedronta e assusta. isso é desconhecido.
 
todo um exercício, isso de voltar a escrever sem medo. faço questão de conseguir.

sábado, 13 de novembro de 2010

hello, stalker.

oi, você que chegou aqui digitando na mesma caixa de busca as palavras: incrível, hipsters, post, twitter, mobile, iphone e freud.

e passou 17m50s lendo. e visitou 12 páginas do blog.

#win

você me conhece. fato. 

apresente-se.

:)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O menino nórdico

Porque o buraco é sempre um pouco mais embaixo.

Há umas semanas teve uma festa da firma. festa que rola vez por outra, meio karaoke, com uma banda do pessoal da equipe antiga. E geralmente eles chamam todos que já saíram da firma, e isso sempre serve pra encontrar as pessoas perdidas. E eu perdi dois amigos para o mercado recentemente. Uns dias sem um deles e o meu coração doi. Ele era quem sempre pedia a minha coca-cola, com gelo e sem limão, antes mesmo de eu me sentar na mesa. O que eu vou dizer? Se alguém olha pra você, diz que você é foda e que te paga uma fortuna, você tem mais é que ir embora, mesmo. Foi o que ele fez. Eu respeito ele mais ainda por isso, mas meu coração despedaça a cada vez que eu entro no restaurante árabe sem ele.

E ele foi na festa, junto com a amiga, junto com aquele pessoal esperto dos outros andares, com quem a gente pouco esbarra, mas que, em alguns casos, até topava esbarrar muito mais. E eu tava lá. E tinha esse menino desenvolvedor, que trabalhou na firma até meados desse ano. Desde o ano passado eu achava ele meio incrível. Eu era tímida, ainda não estava nessa fase meio pomba gira em que me encontro agora. Ele é alto, meio louro, magro, mas do tipo que vai à academia. Preferia até que não fosse, vejam bem, mas ele vai. E ele toca guitarra, e eu sempre vou achar isso um charme. E ele tem o olho meio puxadinho, mas é louro, nórdico, sobrenome alemão. Acho bem digno.

No ano passado, enquanto eu seguia o coworker territorialista pelos corredores, eu esbarrava nesse menino. Nunca percebi ele me olhando, nada de mais, nada além daquela troca de olhares normal. Saí da firma colorida, fui pra oficina. A firma colorida cliente, de vez em quando a gente esbarrava nas pessoas, por lá, observando os testes com os usuários. E teve esse dia que ele foi. E eu não sabia. E quando eu soube que era a minha amiga querida na salinha de observação, entrei lá que nem uma flecha, fazendo festa. E era ele, lá, com ela. Fiquei sem graça, sorri, vida seguiu. Voltei pra firma, nos esbarramos algumas vezes, aquela coisa default. Quando chegou o email de despedida dele, eu pensei. Oh, crap. Mas nem era assim, algo importante.

Quinta feira, festa da firma, ele aparece. Trocamos olhares. Sóbria, eu fico sem graça. Cumprimentei, começamos a conversar. Ele me contou como estava, onde estava, falou que tinha saído da firma porque foi aprovado num concurso público whatever e era hora de buscar estabilidade na vida. Estabilidade. Tudo que eu não procuro na vida. Eu quero a aventura, thankyouverymuch. Falou que estava pensando em "casar, constituir família". Eu disse. Nossa. Tudo do que eu mais fujo.

Não deu meia hora, eu ainda sóbria, ele me pegou pelo braço. Pra me dizer que desde o ano passsado me achava incrivel, bla bla bla whiskas sachê. E eu. Nossa, menino. Mas que surpresa. E ele segurando o meu braço. E eu. Mas assim você me deixa sem graça.

Abre parêntesis.
Estivesse eu bêbada, como sói acontecer, enlaçava meus dois braços em volta daquele pescoço e o resto era história.
Fecha parêntesis.

Eu estava sóbria. Fiquei sem graça mesmo. E não rolava pegar ele ali, no meio da festa da firma. Pelo que eu me lembrava, de acordo com um leve stalking uns meses antes, o menine tinha até namorada.

Vida seguiu. Cheguei em casa, resolvi buscar. Facebook, e coisa e tal. E tava lá. In a relationship.

Pulei fora. Porque. Né?

domingo, 7 de novembro de 2010

oi, garoto.


faz um tempo que a gente brigou, e eu queria te contar umas coisas. a primeira é que eu ainda sinto saudades. de vez em quando, cada vez menos. mas de vez em quando acontece.

queria te contar que longe de você eu fui livre, e pude fazer as minhas escolhas. e quando eu me dei conta, havia gente incrível em volta de mim. de novo. porque eu sempre reconheço gente incrivel. mesmo que a gente incrível que um dia foi você tenha se tornado essa coisa que eu ainda não sei dar nome. não. eu ainda não sei.

queria te contar que desde que a gente brigou eu comecei a sair. primeiro porque distraia do fato de que eu não tinha por perto o melhor amigo, e todo o grupo. e que vocês continuavam juntos, se divertindo, só que agora sem mim. por escolha. foi escolha vocês me cortarem, foi escolha eu não correr atrás. amizade é mão dupla. se não for, não serve. mas, ainda assim. queria te contar essas coisas.

você dizia que eu era travada, que eu não saia, que eu me permitia muito pouco, quase nada. pode ser. eu nunca vou te perdoar pela forma como essas coisas foram ditas, mas eu queria te dizer que longe de você eu fui livre. e eu virei noites e noites dançando até amanhecer, e eu fiquei bêbada, e eu dancei num pole dance. eu beijei mais meninos bonitos do que eu consigo me lembrar. dormi com alguns. fiquei aborrecida por alguns não me ligarem no dia seguinte, aliviada por outros.

era isso que você dizia? que eu tinha que fazer? eu acabei fazendo, sabe? eventualmente, no meu tempo, na hora em que eu quis, com as pessoas que eu quis. sem que você me dissesse quem e onde. sem que você me ensinasse. sem que você me criticasse por ser uma péssima aprendiz.

sabe a parte em que eu disse que não te perdoaria? eu menti. eu te perdoei, já. ainda tenho um pouco de medo de esbarrar em você, mas só por não saber como agir, mesmo. e porque ainda machuca. não de um jeito ruim, forte, sofrido. é tipo uma alfinetadinha no coração. eu achava que a gente ia ser amigo pra sempre. juro. ou pelo menos por muito tempo. a gente nem foi. engraçado.

ainda ontem eu me lembrei de você. porque era 5 de novembro. remember, remember, de 5th of november. eu lembrei de você me buscando na firma colorida, usando a máscara do V, buzinando alto e gargalhando. e a gente jantou no italiano de sempre, bebeu vinho e teve uma boa conversa. a gente costumava ter boas conversas. eu fico me perguntando onde foi que as coisas se perderam. ali, naquele dia, estava tudo bem.

isso sou eu, purgando a nossa briga. percebendo claramente em quais momentos da minha vida eu faço algo que é resposta pra você, mesmo silenciosa. jogando a cabeça pra trás e gargalhando alto, enquanto tudo gira em volta. eu estou feliz, sabe? tenho novos amigos, e eles são pessoas absolutamente geniais, pra usar uma palavra que eu sei que você adora. com eles não tem tempo ruim, não tem cobrança, não tem julgamento. tem cuidado. tem uma aceitação absurda de cada um como é. um troço que talvez você não conheça. mas que eu te desejo de todo coração.

e era isso, mesmo. o que eu queria te contar. o que eu te contaria, se você ainda estivesse por perto.